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28 de ago. de 2015

A desagradável tarefa de fazer-se odiar

Sempre leio a Martha Medeiros. Tenho identidade com suas escritas e ela trata de temas tão bonitos pela simples beleza de ver o cotidiano. 



Adorei o texto que vi publicado na revista OGLOBO no mês passado “A desagradável tarefa de fazer-se odiar”. Lá ela descreve, com clareza, a tarefa que recai sobre todas as mulheres, pequenas exceções à parte, de botarem ordem no recinto! 

Só que você vai passeando por esse texto, se identificando, e ganha um certo desconforto. Ela chega a falar – com certa ironia - que “alguém tem que fazer o trabalho sujo”.


É você que lembra que a roupa não deve ficar no chão, que o porteiro deve ser pago por lavar o carro, que a feira é toda terça-feira, que as crianças tem que escovar os dentes, fazer o dever de casa, enfim, inumeráveis tarefas. 


Mas, sem papas na língua, ninguém tem como fazer toda essa máquina andar, sem ser chata, muito chata....

Só que aí vem o desfecho do texto. E com uma frase simples a gente lembra porque tudo começou e onde vai terminar....

O excesso de zelo pode ser esfalfante, mas é preciso segurar o “tranco de ser odiada um pouquinho a cada dia para garantir um amor para sempre”

Assim, esse é o amor feminino. Um amor tão grande que permeia todas as tarefas do dia a dia. Faz a gente muitas vezes esquecer da gente e assumir as tarefas da casa, do marido, dos filhos, da empregada, como se fossem a coisa mais importante do mundo!


Ainda estava pensando sobre isso, quando me deparei com um recente estudo americano que criou um laboratório pra entender o motivo do fracasso ou do sucesso de um relacionamento a dois.

Destacam que os pilares do sucesso de um relacionamento de amor está na generosidade e bondade. E esses dois sentimentos tem que aparecer justo nas tarefas corriqueiras e rotineiras.

Sim, porque concluiu-se que atos simples como responder perguntas rotineiras afetam a qualidade do relacionamento e, consequentemente, seu futuro.

E mais, responder com generosidade, paciência, demonstrar interesse pelo outro, cria uma conexão única entre parceiros, enquanto respostas ríspidas os afastam.

Nada mais é do que, com generosidade e bondade, você demonstrar interesse nas necessidades emocionais do outro, apontando primeiro, sempre, o ponto positivo. 

De um lado uma chata que assume esse papel, sem alternativa, para que a vida caminhe bem para todos, de outro alguém que pode te lembrar o quanto você é chata a cada tarefa, ou generosamente te olhar com a cumplicidade de quem sabe a importância daquele papel e quanto difícil é exercê-lo.

Experimentar a generosidade e a bondade nos comentários diários pode ser uma experiência maravilhosa, porque é mesmo na simplicidade que se alcança os maiores ganhos da vida. E que ganho poderia ser maior do que ter uma vida amorosa?

Beijos,
Caprichosas

18 de jun. de 2012

Vende-se tudo!

Tudo bem, eu sou uma admiradora dos trabalhos da Martha Medeiros, mas esse texto achei que merecia estar no blog. Trata de coisas importantes na vida. O desapego material, a organização das coisas, apreciação por delicadezas e a valorização dos sentimentos e das pessoas queridas. Embora pareça óbvio, nunca é demais lembrar dessas coisas e procurar seguir vivendo assim. 



VENDE-SE TUDO 

Por Martha Medeiros 

No mural do colégio da minha filha encontrei um cartaz escrito por uma mãe, avisando que estava vendendo tudo o que ela tinha em casa, pois a família voltaria a morar nos Estados Unidos. O cartaz dava o endereço do bazar e o horário de atendimento. Uma outra mãe, ao meu lado, comentou: 

- Que coisa triste ter que vender tudo que se tem. 

- Não é não, respondi, já passei por isso e é uma lição de vida. 

Morei uma época no Chile e, na hora de voltar ao Brasil, trouxe comigo apenas umas poucas gravuras, uns livros e uns tapetes. O resto vendi tudo, e por tudo entenda-se: fogão, camas, louça, liquidificador, sala de jantar, aparelho de som, tudo o que compõe uma casa. 

Como eu não conhecia muita gente na cidade, meu marido anunciou o bazar no seu local de trabalho e esperamos sentados que alguém aparecesse. Sentados no chão. O sofá foi o primeiro que se foi. Às vezes o interfone tocava às 11 da noite e era alguém que tinha ouvido comentar que ali estava se vendendo uma estante. Eu convidava pra subir e em dez minutos negociávamos um belo desconto. Além disso, eu sempre dava um abridor de vinho ou um saleiro de brinde, e lá se iam meus móveis e minhas bugigangas. 

Um troço maluco: estranhos entravam na minha casa e desfalcavam o meu lar, que a cada dia ficava mais nu. No penúltimo dia, ficamos só com o colchão no chão, a geladeira e a tevê. No último, só com o colchão, que o zelador comprou e, compreensivo, topou esperar a gente ir embora antes de buscar. Ganhou de brinde os travesseiros. 

Guardo esses últimos dias no Chile como o momento da minha vida em que aprendi a irrelevância de quase tudo o que é material. 

Nunca mais me apeguei a nada que não tivesse valor afetivo.

Deixei de lado o zelo excessivo por coisas que foram feitas apenas para se usar, e não para se amar. Hoje me desfaço com facilidade de objetos, enquanto que torna-se cada vez mais difícil me afastar de pessoas que são ou foram importantes, não importa o tempo que estiveram presentes na minha vida. 

Desejo para essa mulher que está vendendo suas coisas para voltar aos Estados Unidos a mesma emoção que tive na minha última noite no Chile. 

Dormimos no mesmo colchão, eu, meu marido e minha filha, que na época tinha 2 anos de idade. As roupas já estavam guardadas nas malas. Fazia muito frio. Ao acordarmos, uma vizinha simpática nos ofereceu o café da manhã, já que não tínhamos nem uma xícara em casa. 

Fomos embora carregando apenas o que havíamos vivido, levando as emoções todas: nenhuma recordação foi vendida ou entregue como brinde. 

Não pagamos excesso de bagagem e chegamos aqui com outro tipo de leveza: "só possuímos na vida o que dela pudermos levar ao partir," é melhor refletir e começar a trabalhar o desapego já! 

Não são as coisas que possuímos ou compramos que representam riqueza ou plenitude. 

São as dádivas especiais que não tem preço, as pessoas que estão próximas da gente e que nos amam, a saúde, os amigos que escolhemos, a nossa fé e paz de espírito.

Beijo, Caprichosas
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